segunda-feira, 29 de junho de 2020

série pandemia

Beijo de mãe não cura tudo, mas alivia.

Ando me lembrando constantemente do filme “a vida é bela “ em que o pai disfarça a situação do campo de concentração com leveza e alegria .
Talvez esse seja nosso único e possível ato heróico , nesse momento de tanta impotência .
Trazer alguma leveza nessa tentativa de enganar a dor e a tristeza daquilo que estamos vivendo.
As vezes eu grito : quem vai sentir saudade da quarentena ?
E eles dizem :
- Euuuu !
E eu sorrio achando que estou fazendo a coisa certa .
Mas na verdade eu nunca tive tanto medo da vida. Nem quando eu era pequena.
Pensando bem , nesse momento me sinto outra vez pequena .
Hoje no jornal tinham caminhões de frigorífico em frente ao hospital.
Toda noite uma cena assustadora aparece para ilustrar aquilo que não tem nome.
E essas cenas voltam quando eu fecho os olhos.
Essa semana eu dormi com os dois no quarto , fizemos um acampamento , colchões no chão. Como eu fazia quando era criança e acordava assustada.
Era eu, adulta quem precisava sentir segurança nesse momento.
E quando eles acordaram gargalhando o medo que eu passei de madrugada ,ficou atenuado.
Foram eles meus heróis dessa vez .
O meu colchão no chão.
E eles nem sabem .
Fica então registrado , pra quando vocês crescerem e estiverem estudando com seus filhos uma epidemia misteriosa que ocorreu em 2020, vocês foram a vacina da mamãe .


Helena Cunha di Ciero
psicanalista

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