domingo, 29 de novembro de 2009




Uma das coisas mais lindas que eu já li , foi Jogo da Amarelinha. O livro de Julio Cortázar é além de incrível, original e intenso. Nem posso tentar usar qualquer palavra, que não as dele para ilustrar:

Toco a sua boca com um dedo, toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se estivesse saindo da minha mão, como se, pela primeira vez, a sua boca entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer, de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade, eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que, por um acaso, que não procuro compreender, coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que minha mão desenha em você. Você me olha, de perto me olha, cada vez mais de perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam uns dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem, com um perfume antigo e um grande silêncio. Então as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se estivéssemos com a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragrância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como uma lua na água.

Julio Cortázar. O jogo da Amarelinha.

Hiding the tears in my eyes

Tem um fantasma assobiando na minha sala.
Ele parece corvo e me assombra noite adentro.
Quando aparece usa um espelho, daqueles de parque de diversão.
Reflete minha imagem pequena e encolhida.
Me convida para entrar no trem,
E no túnel assustador me lembra o quanto é invencível.
Lhe digo que não tenho medo.
Mas é mentira, ele sabe.Eu também sei.
Ele me provoca,Duela, Desafia.
Por fim, aceito e me rendo.
Encaro seu porte altivo.
Sua indiferença comigo.
Tenho um profundo respeito por sua extistência.
Mas ele é ingrato, e não tem pela minha.
Depois já curvada, compreendo( tarde demais):,
é minha vida que foi sugada.

domingo, 22 de novembro de 2009

lindo demais.

http://www.youtube.com/watch?v=trQpzPn9SW4
Eu tenho uma amiga que perdeu metade dela.


Vejo algumas coisas acontecendo:
Tempo que passa e não leva o que devia.
Ouvi dizer que nunca deixamos mesmo a ligação que um dia existiu.
Então, se é assim, liberdade nunca vai existir?
Por que eu quero passar um dia sem me lembrar de você.
Vai ser um dia de alívio, com certeza.
Vou respirar tranquila, sem amarras.
Mas se eu for leve , para onde levo o que você me ensinou?
Para onde levo os pedaços de você que alargaram a minha existência?
Ficou um pedaço só, sem companhia.