segunda-feira, 23 de março de 2015

Ser mãe é que é  wild , meu povo.

Quando eu era mocinha, arrogante e de nariz empinado achava que eu era wild. Ia de carro ou de ônibus para a Bahia, ficava andando descalça  as férias inteiras, dormia em pousadas que nem colchão , nem cortina tinham, dançava forró a noite toda, voltava com o sol nascendo. Me vangloriava de dizer que levava uma vida assim , super wild. O fato é que estava redondamente enganada. Vamos lá: Wild é parir. Ponto.
Entrar na aventura da maternidade  e é uma ousadia daquelas e não há Safári que esteja á altura disso. É preciso coragem e disposição: Trilhas na Chapada Diamantina não são nada comparável á exaustão de amamentar de três em três horas, com dor no peito, leite empedrado, olheiras profundas, esperar o nenê arrotar  sem dormir , mesmo com os olhos fechando.
A madrugada de um recém nascido , consegue ser mais exaustiva do que uma noite inteira numa pista de dança com salto agulha . Importante  salientar também  que um choro que nos acorda tem um valor de selvageria e conseguir silenciá-lo dá uma sensação de um poder absoluto. Mas isso em geral só é feito depois de muito esforço .
Também já corri maratonas, com personal que gritava na minha orelha ás seis da matina, mas nada se compara á resistência necessária para conseguir fazer um nenê dormir. Por vezes sair do quarto é prova de fogo, a gente vai passo a passo lentamente , pé por pé  , porém  o rangir da porta é o suficiente para ter que começar tudo de novo.
Ver o corpo mudar e suportar a dor nas costas de uma gravidez, aquele risco marrom que aparece na barriga , olhar o umbigo sair para a fora . Isso sim é mudança corporal. Aguentar fazer uma tatuagem  ou um piercing não é nada , comparado á isso- Talvez eu dissesse isso a mim mesma quando coloquei uma estrela para adornar meu pescoço aos 18 anos . 

 Conseguir fazer isso tudo sorrindo, achando o cheiro do seu bebê a coisa mais alucinógena do mundo, ficar encantada  a cada conquista de um filho, orgulhar-se de cada novo passo que ele dá, aprender as músicas infantis e cantarolá-las no meio de uma reunião é fato comum, rotineiro. E a meu ver a mais  pura selvageria : Pois é ver a natureza contando para a gente que o instinto materno existe é poderoso e nos possibilita cuidar da existência de um outro alguém. Existe um saber em nós mulheres , que estava lá desde cedo, sendo ensaiado com as bonecas que tínhamos . A maior capacidade do feminino é a doação. E isso sim é wild.