domingo, 27 de setembro de 2009

obrigada altair.


Hoje é meu último domingo no Altair.Esse é o nome do meu prédio no qual moro há dois anos. Daqui, vou para um outro,maior e mais gostoso, essa quinta feira. Barão de Itapoã, nome de luxo. O que não alivia em nada a sensação de nostalgia de partir desse lugar de aconchego. Esatamos aqui, eu, meu marido e nosso gatinho Tutu. O clima é de tranquilidade aos domingos. Geralmente estamos meio cansados , tomamos uma taça de vinho e comemos um wrap. Deitamos no sofá juntos e brigamos pelo controle-remoto. Coisa que acontece com dois terços dos casais no mundo,na sala de TV.
Nessa casa vivi muitas coisas. Foi aqui que me casei.Foi nessa casa que aprendi o que é ser casada. Quando viemos para cá, a relação estava desgastada. Usamos esse lugar para recomeçar. Eu vim com medo, assustada. Era tudo tão novo. E eu que sempre fui tão mimada precisei ter certeza absoluta que poderia voltar para a casa dos meus pais a hora que quisesse.Mas foram passando os dias, e eu fui ficando. Fui me apaixonando por isso que construímos. Fui entendendo que desde que vim para cá , não sofro mais de domingueira crônica.Desde que vim para cá, me senti um par. Dois. Não estava mais só.
Num outro dia estava conversando com um amigo querido e sensível, que na verdade la vie en rose não é bem assim na vida real. Antes de vir eu tive um momento de pânico, medo de perder a liberdade. Mas foram tantas noites gostosas que essa casa me trouxe, tantas farras com amigas, garrafas de vinho, cervejas de latinha ( para não ter que lavar louça). Vieram os amigos dele, que já eram meus e ficaram ainda mais. Vieram as minhas que foram adotadas por ele.Veio o suco que ele gosta que eu saia para comprar. Veio minha mania de pedir para ele cozinhar.E vieram as meias que ele deixa ao lado da cama, só para bagunçar.
E pensar que quando vim para cá, demos uma festinha e umas amigas nos presentearam com um bolo de coração para adoçar a festa. Detalhe: Não tinha nem prato, nem garfo para servir. Foi no guardanapo mesmo, tipo festa do xut na década de 80.
E hoje tenho tantos pratos, tantas louças que precisei contratar um caminhão de mudança para sair daqui. Eu que vim com uma mala vermelha de roupa e só. E eu que parto com o coração cheio de memórias , lembranças e histórias para contar. Eu que agora saio casada , com um gato no colo e uma mão para entrelaçar.
Obrigada ,Altair.

domingo, 13 de setembro de 2009

bella - Angus and Julia Stone

There goes the gal,
In the pretty skirt with the
Golden smile that made you feel new.
Like when the marching band strolls the street,
You know another years come too soon.
So you took her hand and she gave a look, that sent you to the moon.
And there you spoke the words of a gentleman
Can I have this dance with you
Can I share this dance with you

Won't you come on home,
I built us a flying machine.
And well go where you want, we'll sail the seven seas.
I hope all is well, in Daisy's dreams.

There goes the gal,
Yeah the pretty bird, on the golden mile that made you feel real.
She took withon to the stars.
She don't make no big deal.
There she sits with them big old fields of daisies and rusty mills.
And when the sun it shines on her hair of gold,
She's beautiful,
She's beautiful.

Won't you come on home
I built us a flying machine
And well go where you want well sail the seven seas
I hope all is well in Daisy's dreams

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um bolinho de chuva vindo de um pedaço de céu.

Celeste é minha professora de Yoga.Já passou dos oitenta e dá aula em três clubes diferentes.Pioneira da Yoga no Brasil,trbalha duro há muitos anos. Segue para o oficio de ônibus com duas bolsas entrecruzadas para não fazer mal a coluna.
Uma mulher rara, corajosa e forte. É uma professora paciente tanto com idosos já enferrujados no alongamento, quanto com adolescentes exibidos e apressados em mostrar serviço.
Cabelo impecável, olhos puxados e divertidas meias anti derrapantes.Já tomou alguns tombos na vida.Alguns lhe levaram para mesa de cirurgia, outros até hoje ainda não cicatrizaram.
Celeste perdeu dois filhos, uma irmã recentemente. Certo dia me contou de como seu marido lhe comunicou que ia embora: Ela prendia os cabelos longos e ele lhe disse `vou te deixar´.Ela,com aquela postura impecável olhou-o pela última vez e seguiu sozinha na criação dos meninos. Disse-me que um casal, para estar junto tem de comer um saco de sal e de açúcar, tolerar o bom e o ruim.
Um outro dia contou-me da resignação frente a perda de seu filho atropelado. E das noites que vieram com o outro filho no hospital. Noites de medo angústia e solidão. Enfrentadas com a sabedoria de que o sacrifício é parte da vida.
Enquanto a ouvia não pude me conter e comecei a chorar. O meu choro era de admiração, pela beleza das palavras que saiam daquela boca tão cheia de vivências e histórias para contar.
Na véspera de meu casamento fui até ela, lhe dar um beijo antes do dia d. Ela havia levado um forninho pesado, para minha nova cozinha. Mais uma vez me vi chorando na frente dela.Como podia alguém tão delicado a ponto de com mais de oitenta anos levar no ônibus algo tão pesado. Depois me dei conta que ela carrega coisas tão mais pesadas na vida com o mesmo sorriso sereno. Isso é a Celeste.
No fim de cada aula ela cuidadosamente embrulha um bolinho de chuva e deixa ao meu lado na esteira . Chega devagrazinho, sorrateiramente - como quem vai contar um segredo açucarado.É um carinho silencioso para não causar inveja nos outros alunos. Mas é para mim, e as vezes até me pergunto se mereço tamanha ternura no meio do meu dia tão corrido e atropelado.
Mas logo penso, novamente, isso é Celeste. E para cada aluno ela reserva uma surpresa cheia de afeto , uma palavra que vira mantra - tamanho ensinamento. Um olhar que reconhece em cada um dali, a necessidade de um afago. Coisa que ela sabe fazer melhor que ninguém.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

INDIGNAÇÃO X PUREZA


O livro novo do Philippe Roth é um soco no estômago.
Nos coloca de frente a uma questão que há muito me absorve.
A violência da inocência. Até rimam as duas palavras, embora soem internamente de forma tão diferente.
Ao pensar em inocência somos remetidos á algo puro, a inocência branca, leve, doce, transparente até.
Mas a história de Marcus reflete perigos da mesma.O jovem acredita no que vê e no que sente, achando que assim está nutrido de armas contra o mal.Logo que entra na Universidade se vê marionete de terceiro anistas malandros, um diretor manipulador, e uma moça absolutamente despreparada para lidar com afetos. O trágico destino do personagem está lançado nessa tríade fatal. E o a guerra da Coréia serve como pano de fundo da tragédia do pobre moço. Será que se ele continuasse vivo não estaria morto no meio de tanta hipocrisia Universitária? Afinal, para sobreviver no Campus era necessário se mascarar de perverso- Como muitos ali faziam. Ele , judeu bem criado pela mãe amorosa e o pai açogueiro, se vê sufocado e sem saída se não alistar-se na guerra.
O livro me lebrou um momento triste de abertura de testamento na minha família.Eu, jovem de 20 anos querendo apartar a briga familiar e achando que ´só o amor constrói´ fui obrigada a ver gente muito querida se transformar em desconhecidos. Mas eu era muito nova e não sabia que nem sempre o amor constrói, ás vezes ele nos destrói.
O que a maturidade ensina é triste : Acreditar piamente no outro é se doar demais. E o outro, nem sempre trata com a mesma pureza nossos sentimentos, interpretando-os ao seu bel prazer.
É o outro que está errado ou nós por termos sido tão inteiros?
Marcus se defende sendo puro e não perecbe o quanto sua pureza é violentamente combatida por interpretações cruéis e humanas. Bom, mas é exigir muito de gente.. E bem dizia ex meu chefe " Gente é gente, quem dise que dá para confiar em gente?". Mas ele me dizia isso enquanto eu era estagiária e acreditava piamente em muitas outras coisas ....