quinta-feira, 16 de abril de 2009

zita.

Toda vez que eu passar rouge vou me lembrar de você.

Você não passava blush, passava rouge.

E seu rouge nada mais era do que duas bolas de batom, que vc espalhava com os dedos.

E assim me dizia : Viu minha neta, assim se passa maquiagem .

Minha avó era daquelas que falava tudo o que pensava. Despachada , alegre. Adorava dançar e cantar. Vivia cheia de balinhas de mel na bolsa, que me oferecia com seus longos dedos pintados de vermelho. Impecáveis.

Era uma mulher moderna para época : deixou as cartas para enviar da lua de mel já prontas , antes do casamento. Para não perder tempo precioso da viagem. Sábia vovó. Tinha pressa de curtir a vida, pois sabia que ela passava depressa.

Quando meu avô morreu achou que um ano de luto era tempo demais. Contradizendo as carolas do interior, foi viajar para poder voltar a usar roupa colorida . Chega de preto. Mostrando assim que luto se combate com vida.

Quanta herança afetiva recebi dessa mulher.

Gostava tanto de sua alegria e de sua feminilidade . E fico contente quando ouço de meu pai, que tenho o jeito dela.

Quando fui vê-la em seus últimos dias , deixei-lhe minha boneca. Era um jeito de deixar algo meu com ela , de lhe fazer compahia. De tentar alegrar-lhe como ela fazia comigo. De levar um elemento feminino meu para ela . Acho que era meu jeito de pequena de passar um pouco de rouge na bochecha dela. Coisa de mulher.

Talvez tenha deixado minha infância naquele quarto, quando lá larguei minha boneca. E dali em diante aprenderia a ser mulher. Pois estava crescendo com aquela perda .

Mas trago detro de mim o colorido daquele rouge que ela passava .

Um comentário:

  1. Que homenagem linda!

    Fiquei com os olhos cheios de lágrimas!

    É tão difícil perder pessoas especiais... ao mesmo tempo, temos que agradecer a oportunidade de tè-las tido em nossas vidas!

    Beijos

    Constance

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