quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Seu olhar melhora, melhora o meu. Arnaldo antunes

DEIXA ELA ENTRAR

O filme é de vampiro. Tem sangue, cenas trash, gente que pega fogo, e maxilares destruídos. Tem, tem sim. Mas tem um menino que sofre pela exclusão escolar. E uma menina vampira , que parece um monstro gelado.Mas com os olhos densos.
O tema é essa paixão que brota entre os dois.E o que esse sentimento faz com esse garoto. Ele que era medroso com os colegas que lhe atormentavam , depois que se vê apaixonado torna-se corajoso e disposto á enfrentar seus inimigos. Juntos eles inventam uma nova parceria. A parceria dos excluídos. A menina-monstro e o menino assustado.
Ao sair do cinema não me senti nem um pouco bem. Assustei-me com as cenas , criança com boca cheia de sangue é de fato assutador.
Meu amigo perguntou-me na saída se eu tinha alguma interpretação que salvasse o filme. Não soube responder. Não soube, mas agora eu sei, Bruno: O olhar do outro é o que nos salva de nossos monstros internos.Basta um olhar apaixonado para que nos sintamos fortes, capazes, poderosos. Deixa ela entrar é um bom título : Deixe o olhar de afeto penetrar. Esse sim nos purifica. Nos olhos da menina -monstra ele a tornava mais humana. Aos olhos dele ela se autorizava a sentir-se menos fria, e se nutria desse afeto. Aos olhos dela, ele era alguém que a via, a reconhecia e preenchia o vazio no qual ela vivia com seu carinho, com sua ingenuidade de menino pré adolescente.
A contemplação é fundamental para dar um sentido a nossa existência. É preciso que em algum momento a gente se sinta contemplado por alguém para nos sintirmos valorizados, vivos, existentes. O primeiro amor tem esse poder.Nos sentimos notados, vivos e valorizados. Por isso talvez seja o mais puro dos amores. Pois tem essa entrega. Te dou meus olhos e você me dá os seus. Empresta -me teu olhar para que eu me re- conheça,ou me conheça.

*
O meu casal amigo que me acompanhou no filme se nutriu do olhar um do outro e fizeram uma pequena existência. Dora ou João. Será para ele ou ela que olharemos em menos de um ano. E essa criança já é contemplada e amada. E ela ainda nem saiu da barriga.

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