segunda-feira, 20 de julho de 2009

HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO


Roubei o título do meu novo filme favorito, para falar do que vi por aí.

Cuide de você, a nova exposição de Sophie Calle me encheu de perguntas.
A moça toma um fora do namorado via e mail. Sai por aí pedindo á algumas mulheres que leiam essa carta e interpretem o que ele queria dizer em seu texto de despedida.Elas o fazem trazendo um pouco de si naquilo que lêem.
A juíza fala do amor como um contrato, a cantora canta. A psicóloga lacaniana chama-o de narcisista, num esquema de símbolos , enquanto a adolescente resume num :´ele se acha´.
Um exército de mulheres , trazendo dentro de si alguém que um dia desceu por trás da porta e reclamou baixinho: Volta.
Toda mulher já passou por isso, todo homem também. E por isso que a exposição faz tanto sucesso.Há uma identificação imediata, com aquilo que já vivemos em algum momento da vida. E acho que vingativas como são as mulheres, muitas gostariam de fazer o que Sophie fez. Humilhar publicamente, buscando uma explicação, do por que não é amada.
E como qualquer amiga que um dia lhe explicou o que ele quis dizer com isso, as estranhas o fazem. E se doam por inteiro em suas análises da carta. Como sabem ser solidárias as mulheres que amam.
Como dói a rejeição. Como dói ver indo embora aquele que um dia nos foi importante. Buscamos testemunhas afim de comprovar, que ele não prestava mesmo E por isso não nos amava. Então, dei para maldizer o nosso lar.
A mulher abandonada busca vingança, tenta fazer migalhas, daquele que a abandonou.Mas acaba se alimentando de migalhas de ressentimento num lamento de viúva.
Bem diz Alceu Valença em sua música primeira manhã.O lamento noturno dos viúvos é solitário e ecoa pela noite.
Mas a receita para curar um coração abandonado está lá, no título da exposição. Na última frase do e-mail de adeus mandado pelo ex namorado de Sophie : Cuide de você. Volte para você.
O trajeto é longo e dolorido, mas ainda é melhor que alimentar-se de ressentimento e mágoa. Devemos tomar cuidado com o coro da morte das mulheres abandonadas- Diz a escritora da exposição ( a única que combate de frente Sophie).
Carregar um amor como se carrega o maxilar de mortos, pode tornar a vida tarde demais.
Ressentimento paraliza.
A mãe da moça que já entendeu que ninguém morre de amor lhe dá o seguinte conselho (em resumo): Vá em frente, isso passa. Quem sabe isso não inspira uma obra de arte.

Dor de cotovelo vira obra de arte. A minha virou uma tese na faculdade sobre desilusão amorosa.
E você o que fez com aquele amor que não deu certo?
Como fez para transformá-lo em arte na sua vida?




*de onde eu tirei a frase:
Como aqueles primitivos que carregam consigo o maxilar de seus mortos,
Te carrego comigo Tarde de maio.

Carlos Drummond de Andrade.


Eis aqui uma lembrança bonita .

5 comentários:

  1. Helena querida,
    Há tanto tempo que te amo está na minha lista de "por ver". O trailler é ótimo, como são as suas impressões. Ovídio tem um tratado - à venda nas bancas como licvro de bolso - que ensina amar. E neste momento da vida homens e mulheres são absolutamente diferentes. Tanto no começo, quando elas, sabe-se lá por que - insistem num jogo bobo que mais parece aquela brincadeira infantil de ver quem prende o dedão alheio nas maãos presas em ganchos, até na separação, quando elas perdem completamente qualquer brio pelo simples sabor da vingança e, na busca pela humilhação do ex, são capazes de inimagináveis auto-humilhações.
    Esse seu blog está uma delícia.
    Beijos gordos,
    Léo

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  2. Pois vá ver. Leve aquela para quem vc entregou aquele ramo de flores laranjas, que ela vai gostar...


    beijos muitos

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  3. Lê, adorei seu blog... seus textos são lindos!
    Coloquei um link no meu!

    beijos
    Flá

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  4. AI Le. Todos nós passamos por este momento. Quando amamos alguém novamente parece que isso só existe na vida dos outros e que tiramos esta fase de letra. Até o dia que passamos por isso novamente, aí nossas amigas que amam vão sempre saber o que falar para quem achava que poderia tirar de letra.

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  5. Oi, Helena!
    Acho que esta artista está exagerando ao abrir desse jeito não só a própria intimidade, como a do ex-namorado. E no final, é só um jeito de se vingar dele... As respostas femininas me parecem todas muito condescendentes com ela, como se fosse seu objetivo final: mostrar a "maldade" que foi feita com ela através da voz de terceiros.
    De qualquer forma, estamos conversando sobre a obra dela, o que já mostra que é uma obra de arte, né...
    Bjos Van

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