quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Um nome, um lugar

Psicanálise é experiência emocional vivida.  E como tal não pode ser transcrita , gravada , explicada , compreendida ou contada em palavras . É o que é . Assim define T. Ogden  em  Essa arte de Psicanálise  - Talvez seja importante adicionar que é também  uma experiência  bastante singular  e pessoal ,  que se inaugura no ofício  e  no tempo de cada um de nós. O que nos coloca um questionamento : Existe um nome que abarque  suficientemente o fazer do analista?
 Isto é, seria possível ser de fato analista enquanto uma instância , algo fechado  , um nome simplesmente ?  E será  que é de fato importante  que alguém nomeie nosso fazer , além de nossos pacientes ? Ao mesmo tempo em que  se só nosso paciente nos nomeia analista , algo também se complica , uma vez que é preciso que  respondamos em voz alta pelo nome que somos chamados. Devemos ser donos desse e  assim apropriados  de nosso fazer.  E para isso é necessário ter uma identidade bem definida enquanto analista e  a Instituição torna-se palco desse ser em desenvolvimento. Talvez  então  o fundamental seria que esse nome esteja lá  primeiramente, gravado , de cor , no sentido usado pelos gregos antigamente. Um nome que esteja gravado na corda do coração.
O analista deve sair  per via de levare  de dentro de nós , como o escultor que tira do mármore a escultura que estava ali aprisionada . Mas o psicanalista sempre  esteve lá e vai se apossando de nosso estado bruto aos poucos, ás custas de estudo, análise , troca , supervisão  e finalmente :  As custas de  horas trabalho.
Não há uma inauguração de um sujeito analista, uma vez que uma certa inquietude, um desassussego, uma empatia frente ao sofrimento do outro sempre esteve lá. Do contrário não seria esse o caminho escolhido.   É preciso que sempre tenha estado, para vir a ser o local de pouso da história daquele que vem ao nosso encontro em busca do sentimento que conduz a vida: A esperança.
Odilon de Mello Franco acrescenta que trazemos em nosso interior o analista que podemos vir á ser , se tivermos essas funções minimamente estruturada em nós .  O campo Institucional e a análise didática são responsáveis pelo  aninhamento do analista em formação, pela troca de idéias . Manuel Lauriano Salgado de Castro em seu artigo “Tornar-se psicanalista   define que ‘Ser um  objeto significativo em análise  que realmente atenda as necessidades profundas do paciente  é uma função que depende totalmente  do desenvolvimento e da conquista da função psicanalítica  pelo analista.  (pg 201).
A Psicanálise não é um nome, é um estado. Uma maneira singular de estar no mundo e de trocar com ele  , percebendo o grande potencial transformador  do humano, nosso material de trabalho.  Ainda segundo Ogden , o paciente precisa de alguém familiarizado com a noite,  com a dor , alguém que se comova com a escuridão sem teme-la ou paralisar-se frente a  ela. Talvez antes de nos perguntarmos se somos ou não analistas, seja mais importante observar se somos ou não  familiarizados com a noite. E se somos capazes de nos reinventar para cada paciente  , para ser o  analista  que o paciente necessita  : o analista precisa aprender sob nova ótica , como ser o analista de cada paciente em cada sessão ( p.177).
Torna –se também importante avaliarmos o quanto somos capazes de nos afetarmos com a experiência analítica, a ponto de sonhar e aprender com ela.  E o quanto somos gratos  no conceito Kleiniano de gratidão , isso é o quanto fazemos uso daquilo que o mundo interno do paciente nos desafiou enquanto agente transformador . 
            São muitas as histórias que entram em nosso consultório e é preciso  muito cuidado , pois o que um paciente nos traz é algo de muito valioso. Podemos pensar que além da parte técnica envolvida uma outra palavra precisa entrar em jogo, respeito. Sentimento é coisa séria e para trabalhar com eles é necessário muita munição, estudo , supervisão .
Também é  necessário olhar com os olhos da alma o paciente que nos procura  e abriga-lo internamente , afim de compreendê-lo. E  esse lugar  aonde o paciente nos habita não tem um nome definido.  E precisa ? E um nome dá conta disso tudo ?

            

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