LA VIE EN ROSE C’ EST UNE AUTRE CHOSE.
C’est lui. C’est moi. C’est ça. C’est la
vie des choses que n’ont pas autre choix.
Paulo leminsky.
por uma vida
mais ordinária.
Eu tenho verdadeiro horror a pessoas que se dizem realizadas . Essa gente que encontramos
na rua com aquele sorriso plástico no rosto e que diz : Estou realizada . Mas
que raio de história é essa ? Como é possível estar realizado e ainda sim estar
vivo ? Nutro também um certo desprezo
pelas capas de revistas cujas manchetes anunciam: fulana de tal , realizada no
amor e na carreira celebra a vida no mar , ou então , Fulano de tal comemora
mais um ano com plenitude e sabedoria , realizado.
Onde a gente acha isso na vida real ?
Assim , essa plenitude toda . Sim, pois até hoje o que tive foram momentos
gostosos ,mas também tive rotina , banco , contas, dores, desencontros e
diversas chatices . E agora tem um tal de glúten que incha a barriga que devo
evitar .
Realização no
dicionário também tem a ver com finalização . E enquanto estamos vivos nada
está assim tão sólido, tão seguro. Invevitavelmente, alguma coisa vai dar
errado. Mas ninguém comenta . Acho isso assustador .
Já faz um tempo que a frase : " a
vida é dura " caiu em desuso . Parece que na época das nossas avós havia uma
certa resignação com relação ás dificuldades com menos opções de "cura
" das possíveis cicatrizes que a vida poderia deixar.
Hoje o que a gente vê são as vastas
tentativas de solucionar a dureza da vida . São remédios com a finalidade de
atenuar a dor ou mascará-la . Há uma necessidade absurda e quase violenta em
acelerar o processo de cicatrização das feridas : " Toma um remedinho que
a tristeza vai embora . E em nossa pele, uma busca frenética por preenchimentos
diversos para tentar anular a passagem do tempo, apagar as rugas que
testemunharam meu amadurecimento . Nada pode ser revelado : envelhecer é sinal
de fracasso.
Somos regidos pela urgência em aplacar as experiências
que imcomodam. Resolver, disfarçar .Talvez ,afim de voltar a ser mais rapidamente
produtivo e prontamente voltar a alimentar a voracidade do sistema capitalista.
Se produzo, logo estou adaptado, causo menos rupturas nesse mundo mascarado de
gente que funciona. Será?
Surge inevitavelmente, uma nova lacuna :
a da negacão .Tudo que foi difícil, que
ficou marcado , pode e deve ser mandado para baixo do tapete . Rápido . Quem
sabe assim, passa desapercebido . Quem sabe assim nem eu mesma lembro do que
vivi. Qual será o preço que pagaremos
por toda essa fuga? Ou seria essa covardia?
Hoje , a palavra da vez é pressa .Para tirar
uma foto sorrindo : do prato que eu comi , do lugar que eu visitei , dos amigos
que encontrei . Me parece que é preciso que alguém valide minha experiência
agradável afim de comprovar que ela existiu . Se eu estava lá , nem sei . Mas
tive 25 curtidas o que deve ser um sinal de que naquela hora eu fui feliz .
Acho que a felicidade não deve ser vista como um objetivo a ser
alcançado e sim como um momento , que
nunca é duradouro . É nesse peso todo que mora a encrenca ,na minha opinão, na
necessidade de garantir a durabilidade desse sentimento.
Nessa eterna busca empobrecemos todo o
resto do trajeto. E isso acaba sendo de uma tristeza absurda pois não é
possível viver uma vida de verdade tendo sido só feliz . Não há uma
escolha com relação ás dificuldades .
Elas se colocam , sem pedir liçença.
Quando pudermos assumir com
tranquilidade que nossa identidade é
formada também pelas imperfeições ;
Quando finalmente deixarmos de ficar reféns apenas do pensar positivo ou do sorriso artificial
ou quando lembrarmos que rir de tudo pode sim ser sinal
de desespero ….talvez encontremos um
verdadeiro alívio : O de ser quem sou ,
podendo não viver como uma atriz , em busca de aplaiusos ou curtidas.
Ser verdadeiro , ser genuíno é
sentir tudo que um coração vivo for capaz, em toda sua dimensão . Tanto o bom,
quanto o ruim . Tudo isso nos enche de vivência , de experiência e principalmente
: de coragem para saber que posso contar comigo para ir adiante .
Acho que a questão vista de longe , pode
até ficar confundida com um certo conformismo, mas na verdade falo de
resignação como uma possibilidade de contemplação daquilo que passei ao longo
do meu caminho. Contemplar é ver a figura como um todo. E a vida é dura
mesmo , já diziam nossas avós.
É inútil pensar que dá para
construir uma história sem tristeza , rugas , noites em claro e ressaca moral .
Tudo isso somado cria uma experiência individual e singular . Viver se enchendo
de lacunas é viver esburacado . E isso sim não tem nada
de realizado .
Helena Cunha Di Ciero é Psicanalista , Membro filiado
da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e quer deixar para o seu
filho Francisco um retrato da vida com mais verdade.
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