Quando deixei de de te amar
‘E ao acordar a uma hora da madrugada, em desespero
Eis que as três horas da madrugada eu acordei e me encontrei. Fui ao
encontro de mim, calma alegre ,plenitude, sem fulminação
Simplesmente eu sou eu, você é você
É lindo , é vasto, vai durar
Eu não sei bem o que vou fazer em seguida…
(…) Eu sou antes , eu sou quase, eu sou nunca.
E tudo isso eu ganhei ao deixar de te amar.
Escuta! Eu te deixo ser.
Deixa-me ser.”
Clarice Lispector
Quando finalmente deixei de te amar, podia sair a vontade na rua sem o medo de te encontrar . Caminhava
tranqüila , sem temer ser pega de surpresa. Os carros não eram mais iguais ao
seu .
Eu já não era mais prisioneira de tudo que me
lembrava você . As músicas não eram mais marcas da nossa história , ou me
davam recados malucos do destino. Simplesmente tocavam , enchendo meu dia com
uma nova melodia . Já não me atingiam como flechas em forma de notas musicais .
Tocavam - sem me tocar - como era boa essa sensação de ter finalmente mudado de
estação .
Meu telefone voltou a ser só um aparelho e não
mais o portador das notícias do dia . Antes , se você ligasse até o sol me
aquecia diferente . E se não ligava , nem a beleza das flores me
afetava . Nada que não fosse você me interessava .
Agora , já
não tinha medo do meu coração paralisar quando te visse - ele já estava
em um ritmo mais delicado , menos frenético , menos assustado . Ele era meu
novamente e apenas era um orgão dentro de mim para ajudar meu sangue a circular.
Um orgão do qual já nem me lembrava
tanto. Dizem que só lembramos de alguma parte do corpo se temos dor ( por
exemplo , o ouvido só lembramos de sua existência quando ele dói.) Então meu
músculo cardiac já não doía, estava forte , pronto para uma nova caminhada .O
oxigênio era meu , não mais era nosso . Já não vivia para você , naquele sufoco
.
As horas também
já não eram mais suas . E confesso que agora ,pouco importava se o relógio
marcava horário igual . Já não me preocupava se eu estava em seus pensamentos .
Você não morava mais em mim , e isso me trazia uma leveza absurda . Eu
era grata por tudo o que vivemos , sem dor . Sem desejo de revanche ou
auto piedade .
No meu peito
já não havia mais espaço para vingança . No espelho eu já não
treinava conversas imaginarias . Você pôde enfim partir . Eu aceitei, depois de
muita luta .
A vencedora no
caso era eu . Já podia vislumbrar um futuro , contemplar o presente . Meus
olhos não visitavam mais as lembranças . Simples assim . Eu parti .
Com o mesmo coração que entrei . Agora mais rica
com tudo o que vivemos . E o fato de você ter mudado minha vida me deu a
chance de estar pronta para amar outra vez. Deixar de te amar foi azul .
Foi um novo horizonte que surgiu . Agora só meu
.
Que alivio .
Mais uma vez me emocionei com seu texto, e vim aqui registrar, volto a dizer que admiro muito qualquer arte que me toca, a revista é bem amarrada e virou minha leitura necessária! Parabéns a você e toda a revista amarello, mas sera mesmo que o amor liberta? pelo menos esse do texto(o meu) prendeu, talvez o só o amor correspondido liberte, talvez. beijos
ResponderExcluirandré, depois de muito tempo , a gente vê que o que liberta é a capacidade de amar. Que bom que está gostando dos textos.
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