Sublimação
A partida de alguém que amamos tem gosto de tempestade . Rasga o peito da gente feito trovão , parece que nunca mais a vida vai ter cor . Durante algum tempo a nuvem da morte enche a casa , sai dos armários , dos objetos , dos livros e grita nos retratos.
Tudo fica encharcado de lágrima e de silêncio escuro .
A lágrima chove na rotina . Chove um tanto , até que devagarinho vai se dissipando, com a ajuda dessa mesma rotina .
A neblina da morte custa a virar nuvem passageira . Mas a dor vai embora assim de leve , á francesa . Não avisa . Sai aos poucos Diferente da maneira que entra , fazendo tudo ventar . Parte no silêncio , sem alarde , com a gentileza que faltou ao se apresentar . Evapora .
Por fim , o tempo vai ajudando a gente a perceber que as coisas lindas não passam nunca.
São imortais . São eternamente ensolaradas , pois são nossas .
É que o amor é assim, poderoso:
Chega no céu . Acende as estrelas , mesmo as que já deixaram de brilhar. Amor ilumina , renova , reescreve . Protege , feito guarda-chuva.
Hoje eu estou no céu , pai.
E acredito que você deve estar nas nuvens com seu novo livro .
Esse é o final feliz que eu inventei para viver com você. Junto da mamãe e de seus netos .