Não é que eu te esqueci
Eu entendi.
Não é que eu não pense em você .
Eu só aceitei .
Que tinha que ser assim.
Era inevitável .
Não é que eu te esqueci .
Eu me resignei .
Desse dia em diante , parou de doer .
Percebi que lá fora virou só cenário .
Aqui dentro nada mais ficou vazio :
Finalmente me curvei e acostumei a sentir saudade .
quinta-feira, 13 de agosto de 2015
terça-feira, 11 de agosto de 2015
O que será que me dá?
Não houve amor, nem homem,
nem alma. O que se sucedeu é que com o tempo deixei de ter esperas. E quem
deixa de ter esperas é por que já deixou de viver.
(Mia
Couto, A Confissão da Leoa)
Principal motor de nossa vida, essencial para nosso
desenvolvimento , para nossa ligação com o outro, o desejo funda nossa
existência. Ele é o que nos faz ter planos, investir, esperar. Uma vida sem
esse sentimento apoia-se na desesperança, ficando sem propósito ou direção .
O desejo sai pelos poros, pela pele e nos dirige á algo ou
alguém. Está ligado á movimento . É preciso que tenhamos anseios para sair do
lugar. Talvez por isso os comportamentalistas chamam-no de Drive – O que
considero um nome bastante adequado já que ele é quem dirige, empurra, cria um
espaço para que o outro caiba em mim. Um sentimento inquieto e ardente que possibilita a troca e o abastecimento.
Desejando declaro ao mundo minha incompletude: comunico que
há algo que me faz falta e vou em busca
de me alimentar. O desejo nasce da falta
e conta sobre uma necessidade, fazendo oposição á solidão.
É o que me bole por
dentro e me faz suspirar , na canção de Chico Buarque. O grito do corpo , da
pele , que não tem juízo, nem nunca terá , que dá dentro da gente que não devia
, porém que que carrega em si uma essência transformadora. É que ele não se
basta , não se cabe, age, atropela. Assim como um coração ele pulsa e exige
saciedade. A cor vermelha é seu símbolo,
cor do sangue e da vida .
Em seu texto Sobre o Narcisismo, Freud declara : É preciso amar para não adoecer. Humildemente,
acrescento : É preciso desejar para não adoecer. Desejar é sinal de saúde
psíquica. Não desejar está ligado á indiferença , á acomodação , á paralização.
O desejo é responsável por encontros e desencontros surpreendentes
na estrada da vida ; ao criar vínculos , dá liga e desliga . Quantas histórias
de amor acabam por sua falta, quantas começam pela sua força imperativa .
Na Psicanálise, recebe o nome de libido e está ligado ao instinto de vida, responsável
pela criação, reprodução, vitalidade. E popularmente, recebe outro nome: tesão, palavra vinculada
ao ato sexual, nossa principal ferramenta na luta contra a morte. É que ao
desejar, nos reproduzimos e deixamos
descendentes; Isto é, a única forma que
o homem encontra de tornar-se imortal e preservar a espécie é passando adiante seus genes .
O conceito de vetor da física define bem o significado de
desejo : Uma força caracterizada por direção , intensidade e sentido.
Nosso instinto de sobrevivência está vinculado ao desejo, á
fome. Sabemos que um dos sinais que
indicam que a vida está em risco é quando o paciente doente para de ter vontade
de se alimentar.
No entanto, sofremos pois nossos desejos não partem da
nossa reflexão, nem sempre combinam com nossa parte consciente, com os caminhos
escolhidos. Costumam vir de um outro
lugar menos racional , mais bicho, menos elaborado, indomável e esfomeado que
busca satisfação e prazer. Sua força febril é violenta, embora a gente viva
tentando controlar. A tal bruta flor do querer se prima pela desobediência . E
quanto maior nossa tentativa de controle
, maior ele fica . E é nessa impossibilidade da sua realização que
eles vão crescendo e tentando escapar de
seus esconderijos, quando a censura dá uma folga.
O fato é que todos , em algum momento da vida nos curvamos á sua força indomável. Não há
símbolo mais oportuno para representa-lo que
o fogo , que cria a vida tem uma força que queima .
É preciso que hajam faíscas que norteiem nosso caminho . Embora o fogo seja difícil de dominar, nos
aquece e ilumina. Talvez por isso celebremos os aniversários ascendendo velas.
Possivelmente há aí um simbolismo da chama da vida. Apagando-as engolimos combustível
para mais um ano e fazemos um pedido. Oferecemos
ao fogo um desejo que queremos que se torne realidade. E chama também está ligado á
palavra chamar , que lembra uma outra , buscar. E outra vez voltamos ao nosso tema, de onde tudo começa,
sempre: Desejo.
Helena Cunha Di Ciero é psicanalista ,
membro filiado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e tem um
profundo respeito pelo desejo.
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