As meninas do chico

as minhas meninas

Apresento-lhes a família que escolhi:

Somos uma turma antiga de mulheres que juntas vivem se apoiando.Entre nós existe um laço inominável e uma eterna compreensão dos defeitos uma da outra. Estes ficam escancarados e são combatidos pela convivivêcia de tantos anos.Diz a lenda que um amigo é alguém com quem você ousa ser você mesmo. Fato.Com elas não temo mostrar o que sinto. Mesmo ás vezes me sentindo quase ridícula.
Minha amiga Stella tira sarro do meu jeito dramático me comprando um pacote de quinua .Dela surge uma espontaneidade que só seu sorriso largo faz preencher.Stella é capaz de contar a maior mentira na sua cara e rir de si mesma quando é pega no pulo. E ela sempre é, pois como uma criança fala antes de pensar.Como um coração, pulsa o tempo todo. Alegrando tudo o que está a sua volta. Estrela ,Stella.Seu brilho irradiou três meninas tão singulares e especiais , quanto a mãe.Pois se tem algo que ela é , é cheia de vida. Tudo nela é excessivo.Até filho.
Helo é pura lealdade.Dela eu ganho um abraço num dia de drama, uma palavra num dia de desespero.E se eu penso nela me vem á mente uma imagem de uma mão estendida na qual sempre poderei entrelaçar meus dedos . Mas sabe ser ranzinza de um jeito que ninguém leva á sério. Lola, como eu a chamo,nos mostra que ser forte impera na vida.E surpreende a todas nós com sua capacidade de se reinventar.Admirável essa moça , pois todas sabemos que podemos contar com ela.Invariavelmente.
Giovanna sempre foi sofisticada.Chic como ela só, feminina e charmosa. Só desce do salto quando ouve um bom sertanejo. E junto a ela eu desço do meu salto pseudo-intelectual e canto Zezé de Camargo e Luciano, só para contrariar e katinguelê, alto e em bom tom.
Somos opostos complementares no zodíaco.Sabemos disso.E por isso precisamos tanto uma da outra. Sagaz ,essa moça sempre tem uma resposta na ponta da língua.Esperta, danada. Consegue o que quer de todos pois sabe insistir. Especialmente para que eu não vá embora da festa.Acabei aprendendo a fugir dela escondida ,pois se fico, me divirto tanto que passo dois dias com dores nos pés e de cabeça, chego a subir no piano.Gilica para mim.How baby, para nós duas.
Bia é dona de um rosto perfeito e da boca mais suja que já vi.O que a torna tão incrível é essa contradição.E ela impõe respeito.Por sua força e por sua coragem.Prefere um bife acebolado com feijão a caviar.Não tem frescura por ali.Se penso nela vejo-a descalça guiando seus carros enormes em nossas viagens pela praia.Bilau para mim é admirável.Sempre me encostei nela quando tive medo. E ela defende as amigas como ninguém.Se ela está por perto, ninguém se acovarda.Me sinto protegida perto dela.
Syl é a menorzinha de tamanho, com um coração gigante .Mas é invocada até dizer chega.E doce demais, amiga demais.Terna.Companheira.Ela sempre dá um jeito de estar perto e de acalmar quem está ao seu lado.Humildade ela tem de sobra para lutar contra as dificuldades da vida. E deixa a gente embasbacada com isso.Pitchula.
A outra Helena é cheia de reviravoltas , surpreendentes .Ela sabe ser elegante e simples na medida certa. Com ela tenho incríveis histórias da boateca,de adolescência, festas e paixões daquelas de quatorze anos . Ela é a mais nobre de todas, se faz besteira faz escondido. Diferente de mim, que sempre escancaro.
Elisa é guerreira , tem um tom de voz firme e um nariz em forma de coração. Apaixonada por crianças desde sempre, realizará o sonho de se casar dentro de um ano.Morava numa vila que parecia uma casa de bonecas, cheia de charme, feminina. Tudo dela é charmoso, cheio de detalhes  românticos .
E por último, Mariana,mais conhecida como Marianinha.Surpreendente e cômica.Atrapalhada , divertida, e hoje é mãe Nina.Que já chega no meio de uma turma  de mulheres adoravelmente malucas que a recebem com carinho.

Poema de Domingos de Oliveira

Separações - O homem lúcido

. me and you and everyone we know - shoes scene .

a última vez que te vi sorrir

Foi numa festa, jogando a cabeça para trás ,fingiu que não me viu.
Você conversava com uma moça. Tão bonita, pensei. Tão sortuda.
Aquele era meu sorriso jogado para trás numa pista de dança.
Saí em disparada da festa , pois dentro de mim algo havia mudado:
A avenida rebouças me recebeu escura e quase esqueci de um farol.
Chorava sozinha naquele carro e pensava no quanto meu sorriso havia se dado por perdido naquele ano.
Mas foi aí que me dei conta de que estava livre.
E desde então voltei a sorrir.
Daí te vi algumas vezes, tempo da delicadeza.Mas você não era mais capaz de me fazer perder no farol negro dos teus olhos.E em segredo te agradeci por aquele encontro desastroso.

E ela disse no fim:
se eu ficar com você , eu fico sem mim.

A Bela e a Fera

Se olharmos a Venus de Milo,representante da deusa do amor Afrodite, podemos notar que um de seus pés está coberto.Apenas um pode ser visto, o outro fica obscuro pelo véu de sua saia.
Hoje encontrei um amigo que disse ter conhecido uma moça linda que não lhe deu bola.Seus traços perfeitos dominaram toda platéia masculina de uma festa no sábado á noite.Inconsolável, pelos míseros cinco minutos de conversa que teve com a moça, meu amigo pediu conselho a um outro. Este,sabiamente lhe disse: Suas botas são horríveis.E meu amigo conformou-se com o fora que levou.Assim, ela teria algo de menos encantador, seus sapatos.
Enquanto ouvia essa história me lembrei de uma outra moça que conheci no cabelereiro,com quem conversei por um tempão.Dona de um rosto inquestionável ,a moça que acabara de se casar, me confessou algo:
Seu casamento havia sido lindo.Casou-se com alguém que amava e teve uma festa florida e cheia de amigos.Seu vestido lhe coube como uma luva. Tinha seu estilo. Rendado e ousado, parecia ter sido feito para ela.Em seguida houve uma avalanche de comentários a respeito do seu sapato. De fato, não havia nada a ser criticado além disso. Os belos traços da noiva eram fato.A alegria da festa também.Portanto,aqulo que era diferente ,ousado, sobrou para ser alvo de comentários: Seu salto, comprado com tanto amor para aquele grande dia.
Atire a primeira pedra quem nunca viu uma moça bonita e procurou rapidamente um defeito.Quando não há defeito, sempre os pés são procurados.Lembrei da crônica do meu amigo Léo Coutinho , sobre uma garota linda que ele sempre admirou.E que fantasiou que seus pés deviam ter joanetes, afim de suportar o fato de ela apenas o ver como amigo. Um dia, na praia, viu que eles também eram também belos.Que desconsolo.Pronto, nada havia a ser dito sobre ela.
A beleza inacessível provoca inveja, imediatamente.Gente é gente, já dizia minha analista . E gente é feita desse tipo de sentimento horroroso.Mas humano.
Me pergunto se a beleza da estátua de mármore não reside no fato de que um de seus pés está coberto. Será que é nesse pé escondido que depositam aquilo que não é visto, portanto, pode ser imperfeito?Então a Venus pode ser bela, pois há nela algo escondido?
Pois a beleza pode ser dolorosa. Explico: Frente a ela me deparo com aquilo que há de feio em mim, a inveja.Encontro a fera em mim quando vejo aquilo que não é belo.Portanto, me envergonho.
Ser escancaradamente bonito traz questões sobre aquilo que temo em esconder, ou em não ver. Pois ver algo que não tenho me faz lidar com a falta.E isso é doloroso.
Então a beleza pode também ser trágica, -Já dizia antunes filho-na medida que quem a vê lida com aquilo que sente falta em si mesmo.E quem a tem gratuitamente,muitas vezes paga um preço alto com isso.Como a noiva que conheci que teve de lidar com comentários não sobre o amor que tinha concretizado. Nem com o futuro que teria pela frente.Mas com o pobre do sapato.