sábado, 25 de abril de 2009

HORTÊNCIA

Há uns vinte dias fui comprar flores na feira.

Quinta feira acordo sempre querendo encher de flor um de meus vasos .

Parece injusto ficarem dentro do ármario.

Meu momento Mss Dalloway, comprar flores nos jardins.

Oras, se a frase é poética , por que não?

Eis que me deparei com ela, linda, volumosa, rosa.

Era uma hortência que pulsava no meio de todas as outras flores.

Como um coração cheio de vida. Fiz questão de levá-la para casa a pé, andando pela feira .

Eu e minha hortência desfilávamos como duas novas amigas.

E confesso :Parecia que o dia havia ficado florido também.

Mas era um dia como outro qualquer. Coloquei -a no vaso e fui trabalhar.

Quando voltei , lá estava ela para me receber.

E assim tem sido , há uns vinte dias.

Hortências eram as flores que tinha no meu casamento.

Hortência eram as flores que tinha no casamento de uma pessoa muito querida.

Uma pessoa que me ajudou a florescer na vida.

Essa feliz coincidência de gostarmos das mesmas flores nos aproximava dentro de mim.

Mas hoje estamos distantes, ainda que de coração bastante próximas.

E não é que outro dia começa a nascer uma mini hortência ao lado da outra já adulta?

A pequena pedia licença para entrar no vaso , e a outra concedia.

Algumas flores da primeira iam secando, mas ela continuava firme.

Apoiando o pequenino bouquet,como uma mãe que ampara a menina ficar moça.

Parecia que ela dizia: Pode crescer, cresceremos juntas.

Curiosamente foi o que aconteceu com essa pessoa querida.

Que um dia assim como uma hortência , me recebia em sua casa-coração.

E lá estão: Cada uma de um lado do vaso. Uma junto da outra.

Cada uma com seu bouquet, enfeitando minha sala.

sábado, 18 de abril de 2009

Minhas palavras são meus instantes.
Grama suave onde me deito.
Orvalho delicado.
Minhas palavras saem da minha pele.

Não penso que me exponho assim.
O que tenho em mim guardado
Quando vira frase, está tranformado.

*nena.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

zita.

Toda vez que eu passar rouge vou me lembrar de você.

Você não passava blush, passava rouge.

E seu rouge nada mais era do que duas bolas de batom, que vc espalhava com os dedos.

E assim me dizia : Viu minha neta, assim se passa maquiagem .

Minha avó era daquelas que falava tudo o que pensava. Despachada , alegre. Adorava dançar e cantar. Vivia cheia de balinhas de mel na bolsa, que me oferecia com seus longos dedos pintados de vermelho. Impecáveis.

Era uma mulher moderna para época : deixou as cartas para enviar da lua de mel já prontas , antes do casamento. Para não perder tempo precioso da viagem. Sábia vovó. Tinha pressa de curtir a vida, pois sabia que ela passava depressa.

Quando meu avô morreu achou que um ano de luto era tempo demais. Contradizendo as carolas do interior, foi viajar para poder voltar a usar roupa colorida . Chega de preto. Mostrando assim que luto se combate com vida.

Quanta herança afetiva recebi dessa mulher.

Gostava tanto de sua alegria e de sua feminilidade . E fico contente quando ouço de meu pai, que tenho o jeito dela.

Quando fui vê-la em seus últimos dias , deixei-lhe minha boneca. Era um jeito de deixar algo meu com ela , de lhe fazer compahia. De tentar alegrar-lhe como ela fazia comigo. De levar um elemento feminino meu para ela . Acho que era meu jeito de pequena de passar um pouco de rouge na bochecha dela. Coisa de mulher.

Talvez tenha deixado minha infância naquele quarto, quando lá larguei minha boneca. E dali em diante aprenderia a ser mulher. Pois estava crescendo com aquela perda .

Mas trago detro de mim o colorido daquele rouge que ela passava .

terça-feira, 7 de abril de 2009


COISAS QUE EU SEI.
Foi um encontro de uma alegria tão grande que elas pareciam transbordar de felicidade. Era mais um de seus muitos encontros , mas aquele era especial.
Elas não sabiam bem porque, mas esse transbordar de felicidade regava a mesa daquele bar. Elas que se conheciam há tantos anos, estavam mais uma vez reunidas. Era um sábado a tarde .O tempo parecia que havia dado uma trégua para ser testemunha de todo aquele carinho que as cercavam há tantos anos.
Cantaram na mesa diversas vezes, alto para quem quisesse ouvir.Era uma barulheira daquelas que só num momento de muita euforia se reconhece.Pois se celebravam, se adoravam , se divertiam.
Eram as quatro tão diferentes .Em comum um encontro que havia se dado anos atrás na faculdade,de pronto já se souberam amigas.E viveram danças tantas,viagens tantas e encrencas mil.
Mas aquele encontro parecia um encontro raro. E era. Era na verdade uma despedida. Dali em diante , elas iam crescer. Simples assim:
Uma se casaria naquele ano.
Outra mudaria de emprego e começaria uma fase nova, descobrindo em si mais um de seus diversos talentos.
A outra engravidaria mais rápido que imaginava.
E outra seria a primeira a nos dar um bebê lindo que já estava encaminhando .
O carinho daquelas quatro continuaria intacto depois desse dia. Mas as responsabilidades que chegariam eram inevitáveis.
Assim como laço de afeto que vinha as unindo há tanto tempo era inevitável.
Elas se saberiam amigas a vida toda.Pouco importava se elas cresceriam de fato.Uma dentro da outra seria eternamente jovem.E elas se viam como testemunhas da juventude linda que um dia compartilharam.






*Decidi escrever sobre esse encontro pois não acho justo ele passar em branco.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

amor simples

Meu amigo me mandou um texto sobre os amores simples.
Mas quando é amor, sempre é simples.
Quando é, de verdade. É natural. Não tem drama, não tem espaço. Não dá tempo de ter espaço.
A gente quer estar junto e pronto. É natural.Tão natural quanto o existir antes . Mas depois do encontro de verdade , não tem mais antes. Tem o agora.
É simples não há hora, não tem "você é mulher para casar, mas agora não dá."
Tudo vai de um jeito que não existe mais um. Existe um mais um.

Roland Barthes fala que o apaixonado é egoísta. Não sou eu.